Confissão de fé de westminster
Por: Helio Clemente
37 – Capítulo XXXII – O ESTADO INTERMEDIÁRIO
Capítulo XXXII, Seção I – O estado intermediário
Depois da morte, os corpos dos homens retornam ao pó e vêem a corrupção (1); mas as suas almas, que não morrem nem dormem, tendo uma existência imortal, voltam imediatamente para Deus que as deu (2): as almas dos justos, sendo então feitas perfeitas em santidade, são recebidas no mais alto céu onde contemplam a face de Deus em luz e glória, esperando a plena redenção dos seus corpos (3); e as almas dos ímpios são lançadas no inferno onde ficarão em tormentos e trevas espessas, reservadas para o juízo do grande dia (4). A Escritura não reconhece nenhum outro lugar, além destes dois, destinado às almas separadas de seus respectivos corpos.
1 – Gênesis 3,19: “No suor do rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás”.
2 – Lucas 23,43: “Jesus lhe respondeu: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso”.
3 – Romanos 8,22-23: “Porque sabemos que toda a criação (*), a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo”.
(*) – Criação: Anjos e seres espirituais criados, que desconhecem o tempo previsto para o juízo final e desejam ardentemente a restauração de todas as coisas.
4 – Eclesiastes 12,7: “E o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu”.
Resumo
Na morte do homem o corpo e a alma se separam, indo o corpo para a corrupção e a alma para Deus que a deu.
Existem somente dois destinos para as almas após a morte física: céu e inferno.
Na segunda volta de Cristo o corpo ressurreto se une novamente à alma no estado glorificado.
O estado intermediário
É preciso ter sempre em vista que o homem é uma unidade composta pelo corpo e a alma, o corpo é material e na morte física ele se decompõe, a alma é espiritual e imaterial, como consequência, imortal. A morte física consiste na separação do corpo e da alma, de forma que o corpo se corrompe, mas a alma volta imediatamente a Deus, dirigindo-se a seu destino final: a alma dos eleitos para a presença de Deus no céu e a dos réprobos ao castigo infindável no inferno.
Neste estado, chamado intermediário, a alma aguarda a segunda vinda de Cristo, quando os corpos serão ressuscitados e unidos novamente com suas respectivas almas para o julgamento final.
Lucas 16,22-23: “Aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos para o seio de Abraão; morreu também o rico e foi sepultado. No inferno, estando em tormentos, levantou os olhos e viu ao longe a Abraão e Lázaro no seu seio”.
Não existe nenhuma evidência ou afirmação bíblica que existam outros estados para as almas após a morte, como o limbo ou o purgatório, ou ainda o sono ou morte da alma. O estado do homem após a morte é definitivo e jamais será mudado, motivo pelo qual o culto aos mortos é herético e condenado pela Escritura.
Lucas 9,60: “Mas Jesus insistiu: Deixa aos mortos o sepultar os seus próprios mortos. Tu, porém, vai e prega o reino de Deus”.
Apesar da decomposição do corpo, a individualidade de cada pessoa será preservada até o dia da ressurreição, o Dia do Juízo, quando o corpo ressurge, espiritual e glorificado unindo-se à alma de forma definitiva, a identidade, o conhecimento e a cultura de cada pessoa serão preservadas para que ela se submeta ao juízo como um ser único, responsável e consciente diante do Cordeiro.
Ezequiel 37,3-6: “Então, me perguntou: Filho do homem, acaso, poderão reviver estes ossos? Respondi: SENHOR Deus, tu o sabes. Disse-me ele: Profetiza a estes ossos e dize-lhes: Ossos secos, ouvi a palavra do SENHOR. Assim diz o SENHOR Deus a estes ossos: Eis que farei entrar o espírito em vós, e vivereis. Porei tendões sobre vós, farei crescer carne sobre vós, sobre vós estenderei pele e porei em vós o espírito, e vivereis. E sabereis que eu sou o SENHOR”.
Capítulo XXXII, Seção II – Transformação e ressurreição
Os que estiverem vivos no último dia não morrerão, mas serão transformados (1); todos os mortos serão ressuscitados em seus próprios corpos e não outros, ainda que com qualidades diferentes, e ficarão unidos às suas almas para sempre (2).
1 – 1 Tessalonicenses 4,17: “Depois, nós, os vivos, os que ficarmos, seremos arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos ares, e, assim, estaremos para sempre com o Senhor”.
2 – 1 Tessalonicenses 4,16: “Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro”.
Capítulo XXXII, Seção III – O estado final
Pelo poder de Cristo os corpos dos injustos serão ressuscitados para a desonra, os corpos dos justos serão ressuscitados, pelo seu Espírito, para a honra e para serem semelhantes ao próprio corpo glorificado de Cristo (1).
1 – João 5,28-29: “Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo”.
Resumo
No Dia do Juízo os que vivem serão transformados e os mortos ressuscitados para o julgamento final.
Esta transformação dos corpos será definitiva à semelhança do corpo ressurreto de Cristo.
Corpos transformados
Haverá um dia do juízo para toda a humanidade, todos os que existiram em todos os tempos. Conforme o apóstolo Paulo, os mortos serão ressuscitados primeiro e os que estiverem vivos neste dia serão transformados e revestidos de imortabilidade e incorruptibilidade.
Todos se apresentarão para o julgamento, os eleitos para a glória junto a Cristo e os réprobos para a ignomínia e o castigo infindável no fogo do inferno. Não existirá a partir de então jovens e velhos, todos serão estáveis e imortais, tanto justos como condenados. A Escritura não detalha o estado dos réprobos condenados, mas seus castigos e sofrimentos serão indizíveis e infindáveis.
Apocalipse 20,14-15: “Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo”.
Os eleitos de Deus receberão corpos perfeitos, à semelhança do corpo ressurreto de Jesus, estarão então livres do pecado original e dos pecados factuais. A identidade de cada um será mantida e preservada com a personalidade e a racionalidade própria da pessoa, retomando então a imagem de Deus, perdida na queda. Os filhos de Deus não mais estarão sujeitos ao pecado e à queda, não porque tenham adquirido esta capacidade, mas porque estarão preservados para sempre por Cristo e entrarão no gozo de sua graça e proteção indefinidamente, por todos os séculos dos séculos, amém.
1 Coríntios 15,42-45: “Pois assim também é a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo na corrupção, ressuscita na incorrupção. Semeia-se em desonra, ressuscita em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscita em poder. Semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual. Se há corpo natural, há também corpo espiritual. Pois assim está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito alma vivente. O último Adão, porém, é espírito vivificante”.
Veja no verso acima que Paulo afirma que o corpo ressurreto será espiritual, não sabemos explicar como será isto, mas a Bíblia de Estudo de Genebra, John Gill, Matthew Henry e outros comentaristas e teólogos respeitáveis concordam com este fato, o que é também a a convicção do autor deste comentário.
Ninguém sabe onde os crentes transformados irão habitar, é dito na Escritura que Deus habita em luz inacessível, coisa que nenhum homem consegue sequer imaginar. É também dito que olhos não viram, ouvidos não ouviram e em coração humano jamais penetrou o que Deus tem reservado àqueles a quem ama. Também está escrito: desceu ao inferno, subiu aos céus, mas estas coisas não dizem absolutamente nada de real a respeito do céu, especular a este respeito é pura invenção humana, pois nada está revelado na Escritura, cabe ao cristão confiar e aguardar confiante no poder de Deus.
1 Coríntios 2,9: “Mas, como está escrito: Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam”.
Agostinho, em suas “Confissões”, afirma que o céu criado no primeiro verso do Gênesis é o céu espiritual, morada dos anjos e das almas dos eleitos após a morte, bem como o inferno, morada das almas dos ímpios após a morte e reservado aos anjos caídos, alguns dos quais, conforme Judas já se encontram ali. A terra, neste mesmo verso, seria o universo material criado a partir do nada.
Judas 1,6: “E a anjos, os que não guardaram o seu estado original, mas abandonaram o seu próprio domicílio, ele tem guardado sob trevas, em algemas eternas, para o juízo do grande Dia”.
Especulações
Afirmar coisas não reveladas na Escritura é especulação, este tipo de coisa deve ser evitado a todo custo, porém, teólogos e religiosos insistem em “descobrir” coisas relativas ao que irá acontecer nos últimos dias e ao que se seguirá o juízo. Estas coisas não são reveladas e os cristãos devem rejeitar especulações a este respeito.
Deuteronômio 29,29: “As coisas encobertas pertencem ao SENHOR, nosso Deus, porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre, para que cumpramos todas as palavras desta lei”.
Muitos teólogos e religiosos se apegam à segunda carta de Pedro, onde ele se refere aos novos céus e nova terra, para afirmar que os eleitos de Deus transformados continuarão a habitar a mesma terra modificada. Esta é uma idéia que não condiz com os versos anteriores onde Pedro afirma que: ‘Os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas’.
Isto leva a crer que todas as coisas existentes serão destruídas, inclusive a terra e todo o universo. As leis naturais da física, pelas quais a providência de Deus usualmente opera, também indicam a morte do universo, seja pela expansão contínua que provocaria a desagregação dos elementos, ou contração pela multiplicação dos buracos negros que levaria o universo à sua condição inicial, contido em um ponto singular (argumento cosmológico Kalan).
2 Pedro 3,10-13: “Virá, entretanto, como ladrão, o Dia do Senhor, no qual os céus passarão com estrepitoso estrondo, e os elementos se desfarão abrasados; também a terra e as obras que nela existem serão atingidas. Visto que todas essas coisas hão de ser assim desfeitas, deveis ser tais como os que vivem em santo procedimento e piedade, esperando e apressando a vinda do Dia de Deus, por causa do qual os céus, incendiados, serão desfeitos, e os elementos abrasados se derreterão. Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça”.
Uma vez que os crentes ressurretos habitarão com Deus, é inimaginável supor que a terra transformada possa conter a Deus e todos os seres espirituais já criados. Deus criou o universo fora de si, este é o princípio básico da criação exposto na bíblia. Imaginando que os crentes continuarão a viver na terra transformada, as pessoas que crêem nisto estão simplesmente adotando o panteísmo, ou seja: supondo que a terra conterá a Deus, elas supõem que o universo é uma extensão do Ser de Deus.
2 Crônicas 2,6: “No entanto, quem seria capaz de lhe edificar a casa, visto que os céus e até os céus dos céus o não podem conter? E quem sou eu para lhe edificar a casa, senão para queimar incenso perante ele?”
Conforme Agostinho, Omo vimos acima, a primeira criação no tempo foi o céu, entendido como a morada de Deus, esta morada de Deus não é co-eterna com ele, mas destituída de matéria física, onde o tempo não tem decorrência, pois não existe movimento.
Agostinho (Confissões): “Por isso a matéria comum a todas as coisas invisíveis e visíveis, matéria ainda informe, mas susceptível de forma, e de onde se fariam o céu e a terra – em outras palavras, a criação invisível e visível – mas uma e outra tendo recebido forma, foi designada por essas expressões de terra invisível e informe, e de trevas reinando sobre o abismo. Com a seguinte distinção: por terra invisível e informe deve-se entender a matéria corpórea antes de ser qualificada pela forma; e por trevas reinando sobre o abismo, a matéria espiritual, antes da restrição de sua, digamos, imoderada fluidez antes de ser iluminada pela Sabedoria (*). Poderia alguém afirmar, se quisesse: Esses termos céu e terra não significam realidades perfeitas e acabadas, lá onde lemos: No princípio Deus criou o céu e a terra – mas um esboço ainda informe, uma matéria passível de receber forma e servir para a criação; nela já existiam, como que um embrião, sem distinção de formas e de qualidades, essas criações, uma espiritual, e outra material que, ordenadas como estão agora, são chamadas de céu (espiritual) e terra”.
(*) “A terra, porém, estava sem forma e vazia” – A matéria corpórea elementar antes de sua forma final. “Havia trevas sobre a face do abismo” – A matéria espiritual fluida sem a iluminação da Sabedoria de Deus (os primórdios do céu espiritual – a morada de Deus).
Outro verso bastante abusado nesta questão está em Romanos, onde o apóstolo diz que a criação aguarda com ansiedade a revelação dos filhos de Deus. Ora, como um pedaço de pedra ou uma porção de terra, ou uma massa de água tem ansiedade?
A criação, neste verso, refere-se a seres inteligentes e conscientes que são os anjos e seres espirituais, bem como as almas no estado intermediário, conforme se pode observar no livro do Apocalipse.
Apocalipse 6,10: “Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?”.
Estas criaturas desconhecem, tanto quanto nós, os tempos predeterminados por Deus, e aguardam com ansiedade aquele momento em que todas as coisas serão restauradas, em caráter definitivo juntamente com os filhos de Deus.
Romanos 8,20-23: “Pois a criação está sujeita à vaidade, não voluntariamente, mas por causa daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria criação será redimida do cativeiro da corrupção, para a liberdade da glória dos filhos de Deus. Porque sabemos que toda a criação, a um só tempo, geme e suporta angústias até agora. E não somente ela, mas também nós, que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo”.
O que cabe ao crente é aguardar com tranquilidade os tempos previstos por Deus, orando e vigiando conforme instruiu Nosso Senhor.
Lucas 21,36: “Vigiai, pois, a todo tempo, orando, para que possais escapar de todas estas coisas que têm de suceder e estar em pé na presença do Filho do Homem”.
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