APOCALIPSE – A MEDIÇÃO DO TEMPLO (B. BÍBLICA)
Revisão e diagramação por: Helio Clemente
É-lhe dito que meça o santuário, isto é, a parte do templo que compreende o Lugar Santo e o Santo dos santos. A parte externa, quer dizer, o pátio dos gentios, deve ser rejeitada. Não deve ser medida. Há, é claro, diversos átrios adicionais, mas esses não são mencionados, talvez por que não tenham significância simbólica.
Além, fora do pátio dos gentios, está Jerusalém, ainda hoje chamada de a “cidade santa”, como em Mateus 27.53. O apóstolo não está pensando na Jerusalém celestial, mas, certamente, na cidade terrestre que rejeitou a Cristo. Ela é chamada de “cidade santa” aqui e em Mateus 27.53 pela simples razão de que havia sido santa. Ainda hoje a Jerusalém terrestre é frequentemente conhecida como a “cidade santa”.
O fato de que, na visão, João vê a Jerusalém terrestre – e, portanto, o templo terrestre – fica, também, claro segundo o que se segue: “estes, por quarenta e dois meses calcarão aos pés a cidade santa”. Esta é a Jerusalém que será pisada pelas gentes. Lucas 21.24, uma passagem paralela, indica com clareza o que significa essa Jerusalém terrestre.
Esta é a figura, o símbolo e a visão. Vejamos isso mais claramente. O apóstolo vê a Jerusalém terrestre e o templo terrestre. Ele mede o santuário interior, mas rejeita o pátio externo. A “cidade santa” e mesmo o pátio externo do templo são calcados aos pés pelos gentios por 42 meses.
Agora, surge uma questão: o que essa figura significa? Essa é a grande questão quanto a cada figura ou símbolo. Qual é seu último significado simbólico? A figura é uma coisa. Seu último significado simbólico é outra. Embora esses dois estejam sempre intimamente relacionados, não devem ser jamais confundidos. Um sentido espiritual mais alto é geralmente expresso no simbolismo terrestre. Ilustremos o que isso significa.
Conforme 1.12, João viu sete candeeiros de ouro no sentido literal do termo. Na visão, eles são, literalmente, sete candeeiros de ouro. Mas esses candeeiros, por outro lado, têm um significado. Eles têm um significado simbólico. “Representam” algo mais. Representam ou simbolizam “as sete igrejas” (1.20). Assim também aqui. Na visão, o apóstolo vê, na verdade, a Jerusalém terrestre, o templo terrestre, o santuário terrestre, o pátio externo terrestre, etc. A próxima questão é: o que tudo isso simboliza?
A resposta é que esse “santuário de Deus” simboliza a Igreja verdadeira, isto é, todos aqueles em cujo coração habita Cristo, no Espírito. São medidos todos os verdadeiros filhos de Deus que o cultuam em espírito e em verdade. São protegidos enquanto os juízos são infligidos sobre o mundo iníquo e perseguidor.
Com certeza, esses santos sofrerão severamente, mas não perecerão; estão protegidos da ruína eterna. Essa proteção divina, contudo, não se estende ao “pátio”, isto é, àqueles que, embora membros da igreja local, não são crentes verdadeiros.
Assim como na visão dos gentios pisoteando Jerusalém e o pátio do templo, assim o mundo pisoteia a cristandade meramente nominal. O mundo invade essa falsa igreja e toma posse dela. Membros de igreja mundanos são receptivos às ideias do mundo; sentem-se perfeitamente à vontade com o mundo; gozam da companhia do mundo; ao votar para cargos políticos são dirigidos por considerações mundanas; em suma, eles amam o mundo. Essa condição perdura por 42 meses, isto é, por toda a época do evangelho.
Nossa interpretação é suportada pelos seguintes argumentos: primeiro, observe que o termo “santuário de Deus” é uma expressão bem comum em referência à Igreja (cf 1 Co 3.16, 17; 2 Co 6.16; Ef 2.21). Deus habita em seu templo, ou melhor, seu santuário.
Segundo, o conceito de “santuário de Deus” é definido em nossa passagem significando “o seu altar [de incenso], e os que nele adoram”. Enquanto o incenso estava sendo oferecido no altar, os adoradores, reverentemente, curvavam sua cabeça em oração. Fica claro, portanto, que a expressão “santuário de Deus” simboliza pessoas; as pessoas que oferecem a Deus o incenso das orações, quando são cristãs verdadeiras.
Terceiro, lemos: “mas deixa de parte o átrio exterior do santuário”. A referência é, certamente, a pessoas, membros de Igreja infiéis que devem ser rejeitados ou excomungados (cf. Jo 9.34). O termo “santuário de Deus” refere-se aos fiéis, aos que não são rejeitados, mas protegidos.
Quarto, assim como em Apocalipse 7 todos os crentes sobre a terra são numerados e recebem o selo de Deus em sua fronte, assim também aqui, no capítulo 11, todos os que adoram no altar, isto é, os verdadeiros adoradores (cf. 8.3) devem ser medidos. Ambas, numeração e medição, referem-se à proteção.
Além disso, tal como em Apocalipse 7 a Igreja militante foi descrita sob o símbolo das tribos de Israel terrestre, assim aqui a verdadeira Igreja é simbolizada pelo santuário terrestre de Israel. O santuário físico simboliza o santuário espiritual, isto é, o povo de Deus.
Quinto, essa interpretação está em harmonia com o simbolismo do Antigo Testamento. O templo de Ezequiel simboliza a Igreja (Ez 43,4-47).
Finalmente, a melhor interpretação de Apocalipse 11 é o próprio capítulo 11 de Apocalipse! Segundo o verso 8 a Jerusalém terrestre é claramente o símbolo do que quer que se oponha à verdadeira Igreja de Deus. E o símbolo e o centro do anti cristianismo, isto é, da imoralidade (Sodoma) e da perseguição dos filhos de Deus (Egito).
Daí se deveria concluir que o termo “santuário de Deus” tem de ser tomado, também, simbolicamente, como falando do povo de Deus (somente os eleitos), dos que são fiéis.
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