FILOSOFIA – SÓCRATES E A LÓGICA
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Baseado no livro História da Filosofia de G. Reale e D. Antisseri
Revisão livre e observações por: Helio Clemente
Durante muito tempo, considerou-se que Sócrates, com seu modo, descobrira os princípios fundamentais da logica do Ocidente, ou seja, o conceito, a indução e a técnica do raciocínio. Hoje, entretanto, os estudiosos mostram-se muito mais cautelosos. Sócrates pôs em movimento o processo que levaria à descoberta da 1ógica, contribuindo de modo determinante para essa descoberta, mas ele próprio não a alcançou de modo reflexo e sistemático.
A pergunta “o que é?”, com que Sócrates martelava seus interlocutores, como hoje se vai reconhecendo sempre mais no plano dos estudos especializados, não implicava já um ganho do conceito universal com todas as implicações logicas que este pressupõe. Efetivamente, com sua pergunta,
ele queria por em movimento todo o processo irônico-maiêutico (*), sem querer em absoluto chegar a definições logicas.
(*) – Uma das formas pedagógicas do processo socrático, a qual consiste em multiplicar as perguntas, a fim de obter, por indução dos casos particulares e concretos, um conceito geral do .objetoobjeto em estudo.
Sócrates abriu o caminho que deveria levar à descoberta do conceito e da definição e, antes ainda, a descoberta da essência platônica, e exerceu também notável impulso nessa direção, mas não estabeleceu a estrutura do conceito e da definição, visto que lhe faltavam muitos dos instrumentos necessários para esse objetivo, e estes, como dissemos, foram descobertas posteriores (platônicas e aristotélicas).
A mesma observação vale a proposito da indução, que Sócrates, sem duvida, aplicou amplamente, com o seu constante levar o interlocutor do caso particular a caso geral, valendo-se sobretudo de exemplos e analogias, mas que não identificou em nível teorético e, portanto, não teorizou de modo reflexo. De resto, a expressão “raciocínio indutivo” não só não é socrática, mas, propriamente, nem mesmo platônica: ela é tipicamente aristotélica, pressupondo todas as aquisições dos Analíticos.
Em conclusão, Sócrates foi de um formidável engenho 1ógico, mas, em primeira pessoa, não chegou a elaborar uma 1ógica em nível técnico. Em sua dialética encontramos os germes de futuras descobertas lógicas importantes, mas não descobertas 1ógicas enquanto tais, conscientemente formuladas e tecnicamente elaboradas.
E assim se explicam os motivos pelos quais as diferentes Escolas socráticas encaminharam-se para direções tão diversas: alguns seguidores concentraram-se exclusivamente nas finalidades éticas, desprezando as implicações logicas; outros, como Platão, desenvolveram exatamente as implicações logicas e ontológicas; já outros escavaram no aspecto dialético até mesmo as nervuras erísticas (*), como veremos.
(*) – Arte ou técnica relativa à argumentação ou ao debate.
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